domingo, 3 de abril de 2022

Notas epistemológicas

 

ESTUDOS CLÁSSICOS BRASÍLICOS (ECB): UMA PROPOSTA DE DEFINIÇÃO DE UM CAMPO DE ESTUDOS

 

José Aristides da Silva Gamito

Histoire d'un voyage en terre de Brésil, Jean de Léry | Livre de Poche  

1.        Estado e motivações

 

O Brasil Colônia já é estudado por campos como a história, a literatura, a antropologia. No entanto, há necessidade de constituir um campo específico para os estudos clássicos brasílicos. Em que consiste esta abordagem? Esses estudos envolvem toda a literatura e cultura da primeira fase da colonização na qual ainda não havia hegemonia da língua portuguesa e da cultura europeia no Brasil e compreende o período de 1500 a 1750. Sendo que 1750 é uma data limite e bem tardia que pode ser discutida.

Neste período indígeno-luso-brasileiro, ainda estavam ocorrendo as primeiras relações entre portugueses e as nações indígenas e esse modo de vida, costumes e visões são importantes para a compreensão da nossa história porque os costumes indígenas ainda não estavam totalmente alterados. A espinha dorsal desses estudos é a produção de uma literatura que demonstra as línguas e as culturas no Brasil antes da hegemonia do português e do pensamento europeu. O período clássico conta com várias culturas indígenas, mas a literatura em tupi antigo se sobressai por ser a que teve registro e amplo uso no contato entre portugueses e indígenas.

A literatura colonial, principalmente, do século XVI, já foi explorada por antropólogos, linguistas e historiados. Mas nos últimos anos, tais estudos ultrapassaram as barreiras das universidades e têm sido amplamente explorada pelos tupinólogos. Os relatos de viagem mostram um Brasil como era antes da invasão portuguesa. A expressão “antes da invasão” talvez não descreva bem a situação porque essa literatura nasce dentro nas primeiras tentativas de domínio europeu.

 

2.    Definição de programa de estudos

 

São fontes propostas para os Estudos Clássicos Brasílicos as seguintes fontes: a) relatos de viagem; b) literatura tupi; c) gramáticas e dicionários tupis até 1750. A base propedêutica desse programa de estudos seria a literatura quinhentista de relatos de viagem e os tratados descritivos do Brasil encontrado pelos europeus no século XVI. Em seguida, viria o aprofundamento na cultura tupinambá e nas trocas culturais entre indígenas e portugueses por meio da língua tupi.

A literatura quinhentista comporta autores como: Pero Lopes de Souza, Paulmier de Gonneville, Luiz Ramirez, Antônio Piga Fetta, Alvar Nuñez Cabeza de Vaca, Hans Staden, Jean de Léry, Anchieta, Gabriel Soares de Souza, André Thevet, Nóbrega, Pero Magalhães Gandavo, Fernão Cardim e Anthony Knivet. A literatura tupi inclui poemas, teatro, livros doutrinais, gramáticas e dicionários e o epistolário tupi.

Em síntese, os Estudos Clássicos Brasílicos procuram compreender o Brasil encontrado pelos europeus que aparece registrado nesses primeiros tratados e na literatura tupi. Nesse período, as genuínas culturas brasílicas estavam em contato e ainda em início de transformação. Sendo a referência principal dessa cultura clássica a tupinambá que teve contato com o português. Até 1750, a antiga língua dos tupinambás serviu como língua franca para esse contato cultural. Não podemos nos esquecer de que se trata de contato violento e não puramente passivo.

 

 

05 de dezembro de 2021.

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