segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Religião dos Botocudos

ETNICIDADE E RELIGIOSIDADE DOS POVOS INDÍGENAS
 DE MINAS GERAIS: OS BOTOCUDOS[1]

            José Aristides da Silva Gamito
Foto: Acervo Plínio Ayrosa - USP.

Introdução

Os povos indígenas das mesorregiões do Rio Doce e da Zona da Mata são os krenaks, pataxós, coroados, puris e koropós que possuem línguas e religiosidade características que sofreram um processo duro de esquecimento durante o processo de colonização.   Atualmente em Minas Gerais, existem indígenas originários da região e outros que migraram para o estado. Os pataxós que vivem no município de Carmésia desde a década de 70 são originários do sul da Bahia[2].
Existem em Minas Gerais os Xacriabá, Pankararu, Aranã, Maxacali, Kaxixó, Pataxó, Krenak, e Xucuru-Kariri.  Segundo dados da FUNAI residem no Estado 7.500 pessoas indígenas.[3]

Identificação dos botocudos (krenaks)

            Os botocudos se autodenominam borun. Nos séculos XVI, esses indígenas viviam ao longo da costa de Ilhéus até Porto Seguro. Ocupavam uma área de 60 léguas. No século XIX, Maxilimien de Wied-Neuwied informa que eles viviam numa faixa de terra entre os rios Pardo e Doce na Capitania de Minas Gerais.
            Eles estavam divididos em três grupos: Minhagiruns, habitantes da região de Colatina; os botocudos de Natividade de Manhuaçu próximo as divisas entre Minas Gerais e Espírito Santo e os botocudos da Lapa, subindo o rio Manhuaçu.  Esses grupos eram chamados Gut-krak.
            Os coroados viviam entre a Serra da Onça e São Geraldo acima dos rios Xopotó e Coroados. Eles alcançavam aos sul o rio Paraíba e a leste o rio Pomba. Eles viviam próximos aos Koropós.

Religião

            Segundo o capítulo 35 da obra de Metraux intitulado “Mythology: The Civilizing Gods”, o deus dos botocudos era chamado de Maret-Khmakniam. Era retratado com muito alto, com grande mão e enorme genitália. Sua esposa era Maret-Jikky.[4]
            Na obra de Curt Nimuendajú, através da análise de mitos podemos estabelecer o universo religioso dos botocudos. Eles acreditavam que no céu habitavam os espíritos chamados tokón. Estes eram invisíveis aos seres humanos, porém, existia uma classe especial de pessoas que poderiam vê-los, os marét. Elas vivem também no céu num estado de riqueza, sem sofrimento e fim. Os Marét têm uma relação com os homens de bondade, mas se irritam às vezes. No começo, eles davam tudo aos homens. Mas isso foi tirado.[5]
            Ainda segundo os mitos coletados por Nimuendajú, os botocudos acreditavam que alguns possuíam força mágica (yikégn). Cada pessoa adulta tem um número de almas (nakandyún), apenas uma habita o corpo, as demais ficam ao redor dele. A perda de nakandyún é causa das doenças. Já os ossos dos cadáveres se transformam em fantasmas (nandyón). Debaixo da terra, vivem os nandyón no Kiyém parádn numa condição de vida semelhança à vida terrena. Eles tentam retornar mais os marét não permitem.[6]

REFERÊNCIAS

MINAS GERAIS. Marco de Referência: Povos Indígenas em Minas Gerais. Belo Horizonte: SPLAG, 2008.
NIMUENDAJÚ, Curt. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico. Nº 21, 1986.
PLOETZ, Hermann e METRAUX, A. The Material Civilization  and Social and Religious Life of the Ze Indians of Southern and Eastern Brazil.






[1] Comunicação apresentada no I Seminário de História e Cultura Regionais, Secretaria Municipal de Educação, Conceição de Ipanema, setembro/2016.
[2] IPATINGA, Prefeitura Municipal de. https://ensfundamental1.wordpress.com/805-2/povos-indigenas-em-minas-gerais-e-vale-do-aco/
[3] MINAS GERAIS. Marco de Referência: Povos Indígenas em Minas Gerais. Belo Horizonte: SPLAG, 2008, p.8
[4] PLOETZ, Hermann e METRAUX, A. The Material Civilization  and Social and Religious Life of the Ze Indians of Southern and Eastern Brazil.
[5] NIMUENDAJÚ, Curt. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico. Nº 21, 1986, p. 91.
[6] NIMUENDAJÚ, 1986, p. 93.