quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Advertências sobre o Uso do Puri

CONSIDERAÇÕES E ADVERTÊNCIAS A RESPEITO DA PROPOSTA DE RECONSTITUIÇÃO DA LÍNGUA PURI


José Aristides da Silva Gamito[1]

1.   Introdução

A partir da observação de algumas tentativas de internautas de utilizar a extinta língua puri nas redes sociais, debrucei-me sobre vocabulários existentes sobre a língua, analisei aspectos gramaticais em frases coletadas por viajantes do século XIX, comparei-os com dados de línguas da família puri e de outras línguas do tronco Macro-jê. Li artigos, dissertações e teses sobre léxico e fonologia dessas línguas. E por fim, elaborei um “Manual da Língua Puri”[2]. Este “Manual” tem como objetivo uma proposta de reutilização da língua Puri. Tal proposta consiste de uma hipótese de reconstituição fonética, léxica e uma convenção sobre uma gramática mínima para começar a utilizar a língua. Às vezes, troco “reconstituição” por “reconstrução” porque na verdade com os registros que temos atualmente da língua não seria possível reconstituí-la, mas sim reconstruir com o auxílio das línguas da mesma família. E nem de longe podemos falar em revitalização porque não conhecemos o Puri antigo.

2. Advertências

As traduções postadas neste blog[3] e no grupo Língua Puri do facebook[4] não são a língua puri antiga, original e pura. Quem quiser utilizar a proposta, deve estar ciente que está desenvolvendo um “neopuri”. Os registros são escassos; não seria possível retomar o puri tal como era. Portanto, a minha contribuição é demonstrar que é possível voltar a falar puri (na verdade, um “neopuri”), mas teremos de recorrer a empréstimos e adaptações.
Nas minhas traduções, utilizo uma base lexical puri com uma convenção gramatical mínima inspirada em línguas macro-jês e empréstimos do coroado e adaptações lexicais. Com o conhecimento que temos do puri até o momento qualquer proposta de retorno terá de recorrer a essas “artificialidades”.

3. Respostas a objeções

Respondo as duas objeções básicas sobre a minha tentativa de voltar a utilizar o puri. Primeira: Eu estaria tomando o protagonismo dos puris na retomada de sua língua? Não entendo que seja assim. Eu fiz uma proposta com o intuito de auxiliar porque via alguns utilizando as palavras sem critério nenhum, formando frases soltas. Mas a minha proposta é apenas um pontapé inicial, um direcionamento, uma sugestão para se pensar e treinar uma retomada da língua. A língua só poderá ganhar vida e contorno próprios com os puris. Isso ocorrerá na prática e através de um processo lento e com uma naturalidade impressa por seus falantes. Mas para isso é necessário um corpo mínimo planejado para a língua.
Segunda: Alguns não tomariam este uso novo da língua como verdade? O fato de ser uma proposta particular está claro nos textos que redigi explicando o método que utilizei para a proposta de reutilização do Puri. Os próprios puri já fazem esse uso nas redes sociais. O poeta Dauá Puri tem a sua forma de redigir textos usando termos puris. Os textos são publicados em nome de cada um, sob a responsabilidade de cada um e não está em lugar nenhum que aquilo é a verdadeira língua puri.
Para retomar a língua, assim como na revitalização de qualquer língua, sempre haverá alguma marca autoral dos lingüistas ou de outros acadêmicos. Sempre haverá empréstimos, adaptações. Haverá um projeto direcionador. No caso do puri mais ainda, só evitaríamos isso se encontrássemos uma fonte inédita que nos fornecesse textos ou a gramática da língua: O famoso “Catecismo Puri de Francisco Chagas”
Portanto, fique bem claro que a minha proposta de uso da língua puri é uma hipótese, não é a “verdade”, é uma contribuição para que seja discutida, ampliada, revista. E quem quiser utilizar, fique à vontade, mas o faça consciente disso! Muito menos pretendo tirar o protagonismo dos puris nessa tarefa. Apenas quis contribuir! Aliás, desenvolvi o trabalho sobre o incentivo do cacique Taypuru Puri. Percebi isso como uma permissão de um representante da etnia para ajudar a pensar o retorno da língua!

4. A proposta para análise
    Quem desejar analisar a minha proposta, indico os links abaixo dos meus textos sobre a língua Puri.  Reitero que não sou linguista, apenas pós-graduando em filologia, mas utilizei a minha experiência com a aprendizagem e estudo de línguas clássicas, modernas europeias e indígenas brasileiras desde 2001 para elaborar uma proposta de critérios acadêmicos. Como um acadêmico da área de ciências humanas, tenho conhecimento do método científico. E a proposta foi calcada sobre os trabalhos de diversos autores (Veja referências utilizadas no final).

1 - Manual da Língua Puri (monografia)[5]
2 - Boasé Tapera (monografia)[6]
3A Árdua Tarefa de Reconstituir a Língua Puri (artigo)[7]
4 – Dedução de Palavras na Lista de Frases do “Vocabulário Puri” de Marcelo Sant’anna Lemos (Vocabulário)[8]

5. Referências utilizadas

Para quem deseja conferir o embasamento da proposta, confira os seguintes estudos:

BEREZIN, Rifka. O Hebraico Moderno: Um Estudo Histórico. Revista Língua e Literatura, USP, nº 6, 1977.

CAMPOS, Carlo Sandro de Oliveira. Morfofonêmica e Morfossintaxe do Maxakali. Belo Horizonte: UFMG, 2009.

CONCEIÇÃO, Natália Braz da. Uma reflexão  sobre variação lingüística na língua Patxohã do povo Pataxó. Belo Horizonte: UFMG, 2016.

COSTA, Francisco Vanderlei Ferreira da. Revitalização e ensino de língua indígena: interação entre sociedade e gramática. Tese de doutorado. Araraquara: UNESP, 2013.

LEMOS, Marcelo Sant’ana.Vocabulário da Língua Puri. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2009.

LOUKOTKA, Čestmír. La familia linguística coroado. In: Journal de la Société des Américanistes. Tome 29 n°1, 1937.

NETO, Ambrósio Pereira da Silva.  Revisão da Classificação da família lingüística puri. Dissertação de Mestrado. Brasília: UNB, 2007.

RAMIREZ, Henri; VEGINI, Valdir e FRANÇA, Maria Cristina Victorino. Koropó, puri, kamakã e outras línguas do Leste brasileiro: revisão e proposta de nova classificação. Liames 15(2): 233-277 - Campinas, Jul./Dez. – 2015.

RIBEIRO, Eduardo Rivail. O Catecismo Puri do Pe. Francisco das Chagas Lima. Cadernos de Etnolingüística. Volume 1, número 1, jan/2009.







[1] Bacharel e licenciado em filosofia, especializando em Língua Latina e Filologia Românica e mestrando em Ciências das Religiões.
[2] https://pt.scribd.com/doc/314813331/Pequeno-Manual-e-Dicionario-da-Lingua-Puri
[3] http://linguasbrasilicas.blogspot.com.br/
[4] Link do grupo: https://www.facebook.com/groups/227600234292516/
[5] https://pt.scribd.com/doc/314813331/Pequeno-Manual-e-Dicionario-da-Lingua-Puri
[6] https://pt.scribd.com/document/334795089/Boase-Tapera
[7] http://linguasbrasilicas.blogspot.com.br/2016/07/artigo-puri-e-reconstrucao-linguistica.html
[8] http://linguasbrasilicas.blogspot.com.br/2016/12/reconstrucao-da-lingua-puri.html

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Reativando o Puri IV

PATAPÃTE BOASÉ (Quarta Lição)

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Puky kosebundana tlamatli. Puky apon kamaring tlamatli. Man katipweyra txĭmbá. Man kanjana txĭmbá. Mbó puky boema hé. Puky hesakinjó hé. Miti hetapaypá hé. Man ndlono: “Ho, búguri  itanaji / gwaxantié, gwaxantié /Á, á,  kanjana / maxê tximbá”.

O puri gosta de dançar. O puri gosta de atirar flechas. Ele bebe catipueira.  Ele bebe cachaça. Mbó é uma mulher puri. Hoje é festa. Ela canta: “Vencemos o bugre /pular, pular / eu vou comer e beber ”.

Hesakinjó: alegre. (Coroado).
Hetapaypá: festa. (Coroado).
Katipweyra: bebida fermentada de milho.


ADVERTÊNCIA: Este texto é uma reconstituição da Língua Puri, não é a língua antiga, original, pura. Por causa da escassez de dados sobre a língua utilizamos empréstimos e adaptações de outras línguas macro-jês. E nem representa esta tradução uma norma oficial, é uma proposta/é experimental/é particular!

Reativando Puri III

PATAPAKÕ BOASÉ (Terceira Lição)

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Yamoeni pañiké maxê moun? Añan tangwá ariké jombé aswá. Xuté ariké hé? Ta. Pañiké ariké, memrina, xumbena oru salada maxê moun. Herewma salada kon tlamatli.  Aré tangwá ariké tlamatli. Boema xuté memĭrina oru xumbena tlamatli. Xambé  erekéma maxê. Añan erekéma maxê. Xuté maxê!

Que vamos comer? A mãe cozinhou carne de macaco. A carne está boa? Sim. Vamos comer carne, arroz, feijão e salada. Criança não gosta de salada. O pai gosta de carne de macaco. A moça gosta de arroz e feijão.  O filho come de tudo. A mãe come de tudo. Boa refeição!


Erekéma: todo, tudo.
Boema xuté: moça.
Yamoeni: o que?


ADVERTÊNCIA: Este texto é uma reconstituição da Língua Puri, não é a língua antiga, original, pura. Por causa da escassez de dados sobre a língua utilizamos empréstimos e adaptações de outras línguas macro-jês. E nem representa esta tradução uma norma oficial, é uma proposta/é experimental/é particular!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Reativando o Puri II

KURIRI BOASÉ (Segunda Lição)

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Xuté opé hé.  Puky jombé kopran txóre kxé. Man xindé jombé ané. Man-yuñun xindé bodaké nãgwira moun. Makin xindé bodaké kon kopran. Puky tangwá jombé yá. Puky tangwá apon jombé galing. Puky tangwá kopran. Puky oru xindé ngwara tu. Puky tangwá jombé aswá oru maxê.

Está um dia lindo. O puri foi caçar na mata. Ele lavou um cachorro. O cachorro dele foi atrás da capivara. Mas ele não caçou a capivara. O puri achou um macaco. O puri atingiu o macaco com a flecha.  O puri e o cachorro foram para casa. O puri cozinhou e comeu o macaco.

Man-yuñun: dele, dela.
Nãgwira: atrás de.
Makin: mas.
Oru: mais, e.


ADVERTÊNCIA: Este texto é uma reconstituição da Língua Puri, não é a língua antiga, original, pura. Por causa da escassez de dados sobre a língua utilizamos empréstimos e adaptações de outras línguas macro-jês. E nem representa esta tradução uma norma oficial, é uma proposta/é experimental/é particular!

Reativando o Puri I

OMI BOASÉ (Primeira Lição)


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Xuté opé!  Xuté opé hé. Préton opé hé. Dié puky hamá koyá? Dié nianitxó? Omi boasé hé. Pañiké puky hamá koyá moun. Tregwinten!

Bom dia! O dia está lindo. O sol está quente. Você fala a língua puri?  Como se chama? É a primeira lição.  Nós vamos falar Puri. Obrigado!


Tregwinten: Obrigado. Sentido original “contente”.


ADVERTÊNCIA: Este texto é uma reconstituição da Língua Puri, não é a língua antiga, original, pura. Por causa da escassez de dados sobre a língua utilizamos empréstimos e adaptações de outras línguas macro-jês. E nem representa esta tradução uma norma oficial, é uma proposta/é experimental/é particular!

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Reconstrução da Língua Puri

DEDUÇÃO DE PALAVRAS NA LISTA DE FRASES DO “VOCABULÁRIO PURI” DE MARCELO SANT’ANA LEMOS

DEDUCTION OF WORDS IN THE LIST OF PHRASES OF "VOCABULÁRIO PURI" BY MARCELO SANT'ANA LEMOS

José Aristides da Silva Gamito

Introdução

O seguinte trabalho tem como objetivo reconstituir palavras da língua Puri que estão registradas em frases e expressões. O método adotado é o da comparação entre fontes.  Primeiramente, reconstituiremos a forma pela concordância entre as fontes (em Puri); não sendo suficiente comparamos a algum registro em Coroado. A lista a ser analisada é a de Marcelo Sant’ana Lemos no “Vocabulário Puri”, páginas 77 e 78.

Vocabulário

HIME: estar. Sentido hipotético deduzido das seguintes expressões: Estou cansado – Demat hême. Estou com sono – Matára hime. Tárana significa “sono”. As terminações heme e hime parecem significar “estar”. Nas comparações de Loukotka, constatamos que a raiz “hon/hun” têm esse sentido.

KAMBANA: dar, conceder. Sentido hipotético deduzido das seguintes expressões: Dá-me de comer – Kanama pu mavê gue. Dar de mamar – Ñamantã kambana.

KAREKUN: tristeza, saudade. Sentido hipotético deduzido das seguintes expressões: Nat karkun – Por que está triste?; Bokara ma karekun – Tenho saudades da floresta. Portanto, karkun – triste; karekun – saudoso.

KASANGWÊ: mostrar. Sentido deduzido da expressão: Xina kasangwé – mostre-me o caminho. Reforça-se o sentido o fato de já sabermos que Xinô ou tsinna é caminho.

KÉNAN: subir. Sentido hipotético deduzido da expressão: Bô kènan – subir na árvore. Certamente, a expressão seria ambó kénan. Já que sabemos por outras fontes que árvore era ambó. Torrezão registrou bocuah como trepar em árvore. Do mesmo modo, a expressão poderia ser reconstituída como ambó kwá.

KOPU: Dar, entregar. Sentido deduzido da expressão: Có pou – me dê isso. A hipótese é corroborada com a seguinte referência em Loukotka: Dê-me – Gapó (em Coroado) e Gapú (em Koropó).

MAMBABA: beber.  Sentido hipotético deduzido das expressões: Igmambà bà Ge – ter sede. Inhaman muia mambaba – Vai buscar água para eu beber. Nesta última expressão, parece-me que foi dito “quero beber água” – Ñamã muyá mambaba.

MARAÊ: de quem. Sentido hipotético deduzido da expressão: De quem é a criança – Chambey marà ey?

MUYÁ: querer. Sentido hipotético deduzido da expressão: Ah canjana muiá – quero beber cachaça.  No vocabulário de Loutkotka encontramos: Muyá – quero; m’ké ma mayá – quero comprar.


NAT: Por que? Sentido hipotético deduzido da expressão Nat karkun – Por que está triste? Ver análise em Karkun.

NE: não. Sentido deduzido da expressão: Gá né – eu não. Já sabemos por outros registros que ga signfica “eu”.

NIANITXÓ: chamar. Sentido deduzido da expressão: Titxeng nianitxó? – Como se chama sua mãe? Segundo Louktoka, titxeng significa “mãe”.

NIMBÓ: o que tem; aquele que. Sentido deduzido da expressão: Nimbó péô – o que tem que chorar. Segundo Ménétriès, péô significa “chorar”.

PRÉTON KON: frio. Sentido deduzido comparando os registros presentes em Loukotka e os de Ménéstriès. Ver Préton.

PRÉTON: quente, fervendo. Sentido deduzido da expressão: A água está fervendo – Munhamá préton. O sentido é corroborado pela palavra préton com significado de “quente” no Coroado (Loukotka). Há registro também do termo prétonma que significa no Puri “calor”. A expressão brit tou con registrado por Ménétriès talvez possa reconstituída como préton kon “frio”.

REFERÊNCIAS

LEMOS, Marcelo Sant’ana. Vocabulário da Língua Puri. Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2009.

LOUKOTKA, Čestmír. La familia linguística coroado. In: Journal de la Société des Américanistes. Tome 29 n°1, 1937. pp.157-214.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Frases na língua Puri



XUTÉ BOASÉ PRIKA (BELAS PALAVRAS)

Exercício de reconstituição da língua Puri

Herewma ñamantá tximbá.
A criança bebe leite.

Sipati puki hamá koyá.
Sipati fala a língua puri.

Baó toké tiking  kxé hé.
A banana está na barriga do macaco.

Mbó xurumun kon maxé.
Mbé não come batata.

Miti ñamakuú moun.
Hoje vai chover.

Makapon ga mapro.
Ame, eu peço.

Ñamantá britu hé.
O leite está quente.

Sipati beta kxé katara jombé.
Sipati dormiu na rede.

Koema miretetena yá jombé.
O homem encontrou ouro.


ADVERTÊNCIA: Este texto (frase) é uma reconstituição da Língua Puri, não é a língua antiga, original, pura. Por causa da escassez de dados sobre a língua utilizamos empréstimos e adaptações de outras línguas macro-jês. E nem representa esta tradução uma norma oficial, é uma proposta/é experimental/é particular!

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Religião dos Botocudos

ETNICIDADE E RELIGIOSIDADE DOS POVOS INDÍGENAS
 DE MINAS GERAIS: OS BOTOCUDOS[1]

            José Aristides da Silva Gamito
Foto: Acervo Plínio Ayrosa - USP.

Introdução

Os povos indígenas das mesorregiões do Rio Doce e da Zona da Mata são os krenaks, pataxós, coroados, puris e koropós que possuem línguas e religiosidade características que sofreram um processo duro de esquecimento durante o processo de colonização.   Atualmente em Minas Gerais, existem indígenas originários da região e outros que migraram para o estado. Os pataxós que vivem no município de Carmésia desde a década de 70 são originários do sul da Bahia[2].
Existem em Minas Gerais os Xacriabá, Pankararu, Aranã, Maxacali, Kaxixó, Pataxó, Krenak, e Xucuru-Kariri.  Segundo dados da FUNAI residem no Estado 7.500 pessoas indígenas.[3]

Identificação dos botocudos (krenaks)

            Os botocudos se autodenominam borun. Nos séculos XVI, esses indígenas viviam ao longo da costa de Ilhéus até Porto Seguro. Ocupavam uma área de 60 léguas. No século XIX, Maxilimien de Wied-Neuwied informa que eles viviam numa faixa de terra entre os rios Pardo e Doce na Capitania de Minas Gerais.
            Eles estavam divididos em três grupos: Minhagiruns, habitantes da região de Colatina; os botocudos de Natividade de Manhuaçu próximo as divisas entre Minas Gerais e Espírito Santo e os botocudos da Lapa, subindo o rio Manhuaçu.  Esses grupos eram chamados Gut-krak.
            Os coroados viviam entre a Serra da Onça e São Geraldo acima dos rios Xopotó e Coroados. Eles alcançavam aos sul o rio Paraíba e a leste o rio Pomba. Eles viviam próximos aos Koropós.

Religião

            Segundo o capítulo 35 da obra de Metraux intitulado “Mythology: The Civilizing Gods”, o deus dos botocudos era chamado de Maret-Khmakniam. Era retratado com muito alto, com grande mão e enorme genitália. Sua esposa era Maret-Jikky.[4]
            Na obra de Curt Nimuendajú, através da análise de mitos podemos estabelecer o universo religioso dos botocudos. Eles acreditavam que no céu habitavam os espíritos chamados tokón. Estes eram invisíveis aos seres humanos, porém, existia uma classe especial de pessoas que poderiam vê-los, os marét. Elas vivem também no céu num estado de riqueza, sem sofrimento e fim. Os Marét têm uma relação com os homens de bondade, mas se irritam às vezes. No começo, eles davam tudo aos homens. Mas isso foi tirado.[5]
            Ainda segundo os mitos coletados por Nimuendajú, os botocudos acreditavam que alguns possuíam força mágica (yikégn). Cada pessoa adulta tem um número de almas (nakandyún), apenas uma habita o corpo, as demais ficam ao redor dele. A perda de nakandyún é causa das doenças. Já os ossos dos cadáveres se transformam em fantasmas (nandyón). Debaixo da terra, vivem os nandyón no Kiyém parádn numa condição de vida semelhança à vida terrena. Eles tentam retornar mais os marét não permitem.[6]

REFERÊNCIAS

MINAS GERAIS. Marco de Referência: Povos Indígenas em Minas Gerais. Belo Horizonte: SPLAG, 2008.
NIMUENDAJÚ, Curt. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico. Nº 21, 1986.
PLOETZ, Hermann e METRAUX, A. The Material Civilization  and Social and Religious Life of the Ze Indians of Southern and Eastern Brazil.






[1] Comunicação apresentada no I Seminário de História e Cultura Regionais, Secretaria Municipal de Educação, Conceição de Ipanema, setembro/2016.
[2] IPATINGA, Prefeitura Municipal de. https://ensfundamental1.wordpress.com/805-2/povos-indigenas-em-minas-gerais-e-vale-do-aco/
[3] MINAS GERAIS. Marco de Referência: Povos Indígenas em Minas Gerais. Belo Horizonte: SPLAG, 2008, p.8
[4] PLOETZ, Hermann e METRAUX, A. The Material Civilization  and Social and Religious Life of the Ze Indians of Southern and Eastern Brazil.
[5] NIMUENDAJÚ, Curt. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico. Nº 21, 1986, p. 91.
[6] NIMUENDAJÚ, 1986, p. 93.