quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Reativando o Puri I

OMI BOASÉ (Primeira Lição)


Resultado de imagem para índio ao sol

Xuté opé!  Xuté opé hé. Préton opé hé. Dié puky hamá koyá? Dié nianitxó? Omi boasé hé. Pañiké puky hamá koyá moun. Tregwinten!

Bom dia! O dia está lindo. O sol está quente. Você fala a língua puri?  Como se chama? É a primeira lição.  Nós vamos falar Puri. Obrigado!


Tregwinten: Obrigado. Sentido original “contente”.


ADVERTÊNCIA: Este texto é uma reconstituição da Língua Puri, não é a língua antiga, original, pura. Por causa da escassez de dados sobre a língua utilizamos empréstimos e adaptações de outras línguas macro-jês. E nem representa esta tradução uma norma oficial, é uma proposta/é experimental/é particular!

7 comentários:

  1. Aristides vou fazer algumas observações sobre as suas propostas: a frase "O sol está quente" você colocou Préton opé hé, mas a palavra quente em puri é brit tou (cfe. Edouard Ménéstriès),única referência em dicionário que temos, sol = opé, hé seria um empréstimo linguístico(?), cujo significado não sei? Não seria melhor Brit tou opé hé?
    Em relação a obrigado, já que você propõe o sentido original de contente, em puri não seria aripòu aguerá (cfe. Edouard Ménéstriès)?
    Quanto a Puky eu prefiro Puri mesmo, já que na literatura e documentação histórica esse prevalece.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marcelo, sim. 1 - Podemos adaptar a frase "O sol está quente" para Britu opé hé. Sempre elimino as vogais "ou" na adaptação de palavras de autor francês. Utilizo "u" no lugar. 2 - Aripu agwerá = contente? Se há a palavra no puri, o empréstimo é mesmo desnecessário. 3 - Utilizei "puky" porque vejo o pessoal escrevendo nas redes sociais, mas optaria também por "puri".

      Excluir
  2. Aproveito também para parabenizá-lo pelo esforço de reconstruir a língua, o que estávamos precisando.

    ResponderExcluir
  3. Gostaria de problematizar uma expressão já consagrada: Xuté opé! Que foi popularizada entre os Puris por Dauá, a partir do Torrezão.
    Torrezão coloca dia como "opeh", que também é sol. Só que ao verificarmos em outros vocabulários a palavra dia não tem concordância fonética e tem propostas diferentes de grafia. O que me leva a suspeitar que os Puris, assim como Huni Ki, teriam expressões variadas para cada hora do dia. Sei que Dom Pedro II ficou com os Puris na parte da tarde e quando ele perguntou o que significava dia, os Puris do Espírito Santo falaram "dzanêmuda". Já Adrien Balbi que pegou emprestado o conhecimento do Puri de Ferdinand Denis fala para dia a palavra "bricca"; já Martius que consultou Guido Marliére (que conviveu anos com os Puris) diz que dia seria "vera". Phillipe Rey, antropólogo, veio para o Brasil na mesma década que Torrezão coletou o seu vocabulário e diz que dia é "vemo". Assim nenhum dos cinco autores concordam tanto na fonética como na escrita, levando a suspeitar que o sentido semântico de cada palavra é diferente, o que poderia corresponder a horas diferentes do dia como os Huni Ki.
    Vou exemplificar usando a língua Huni Ki:
    Manhã
    5:00 - Kebu tikiri iki - quando o jacú canta;
    6:00 - Shubu napenai - quando clareia dentro da casa;
    7:00 - Bari txipeshei - quando sai o sol;
    8:00 - Nibi tsusiai - quando enxuga o sereno da madrugada;
    9:00 - Bari tsã iki - quando o sol começa a esquentar;
    10:00 - kuku biush iki - quando pia o gavião branco rodando o céu.
    Só para ficar em alguns exemplos.
    Podemos pensar que a língua era mais rica que imaginamos e que também variava as palavras para as horas ou períodos do dia, por isso não bate a pronúncia e a grafia da suposta tradução do que chamamos dia, coletada pelos cinco pesquisadores do século XIX!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim. Várias línguas têm essas divisões do dia. Talvez Marlière tenha uma expressão mais genérica: "vera". A falta de documentação sempre nos deixará em dúvida!

      Excluir
  4. Olá, José Aristides. Antes de mais nada, quero parabenizar você pelo trabalho. Sou descendente distante dos Puris pelo lado de minha avó paterna e estava muito triste pela perda do conhecimento linguístico e cultural da tradição puri da região do Rio Pomba.
    Atualmente, faço um curso de revitalização de línguas extintas e, devido a um dos trabalhos, escolhi o idioma de meus ancestrais para desenvolver a pesquisa. Qual não foi minha felicidade ao descobrir que ainda há quem busque resgatá-la, ainda há quem a fale.
    Um segundo aspecto, apenas para reforçar tua iniciativa, os procedimentos que você adota com relação a empréstimos para resgate da língua puri, estão corretos. Dada a escassez de registros, alguns empréstimos podem ser feitos de línguas irmãs da mesma área geográfica (mas mais raramente do mesmo tronco linguístico). Assim tem sido feito no processo de revitalização de línguas aborígenes na Austrália e foi feio com o Hebraico (atualmente Israeli) - revivido e atualmente em amplo uso pela comunidade judaica. Jamais teremos o Puri original, mas um renascimento dele, o que absolutamente não invalida o propósito.
    Você está de parabéns! Quando eu conseguir juntar todos os elementos e enfim aprender a língua de meus antepassados, volto a comentar com você.

    ResponderExcluir