CONSIDERAÇÕES
E ADVERTÊNCIAS A RESPEITO DA PROPOSTA DE RECONSTITUIÇÃO DA LÍNGUA PURI
José Aristides da
Silva Gamito[1]
1. Introdução
A
partir da observação de algumas tentativas de internautas de utilizar a extinta
língua puri nas redes sociais, debrucei-me sobre vocabulários existentes sobre
a língua, analisei aspectos gramaticais em frases coletadas por viajantes do
século XIX, comparei-os com dados de línguas da família puri e de outras
línguas do tronco Macro-jê. Li artigos, dissertações e teses sobre léxico e
fonologia dessas línguas. E por fim, elaborei um “Manual da Língua Puri”[2]. Este
“Manual” tem como objetivo uma proposta de reutilização da língua Puri. Tal
proposta consiste de uma hipótese de reconstituição fonética, léxica e uma
convenção sobre uma gramática mínima para começar a utilizar a língua. Às vezes,
troco “reconstituição” por “reconstrução” porque na verdade com os registros
que temos atualmente da língua não seria possível reconstituí-la, mas sim
reconstruir com o auxílio das línguas da mesma família. E nem de longe podemos
falar em revitalização porque não conhecemos o Puri antigo.
2. Advertências
As
traduções postadas neste blog[3] e
no grupo Língua Puri do facebook[4] não são
a língua puri antiga, original e pura. Quem quiser utilizar a proposta,
deve estar ciente que está desenvolvendo um “neopuri”. Os registros são
escassos; não seria possível retomar o puri tal como era. Portanto, a minha
contribuição é demonstrar que é possível voltar a falar puri (na verdade, um “neopuri”),
mas teremos de recorrer a empréstimos e adaptações.
Nas
minhas traduções, utilizo uma base lexical puri com uma convenção gramatical
mínima inspirada em línguas macro-jês e empréstimos do coroado e adaptações
lexicais. Com o conhecimento que temos do puri até o momento qualquer proposta
de retorno terá de recorrer a essas “artificialidades”.
3. Respostas a objeções
Respondo
as duas objeções básicas sobre a minha tentativa de voltar a utilizar o puri.
Primeira: Eu estaria tomando o
protagonismo dos puris na retomada de sua língua? Não entendo que seja
assim. Eu fiz uma proposta com o intuito de auxiliar porque via alguns
utilizando as palavras sem critério nenhum, formando frases soltas. Mas a minha
proposta é apenas um pontapé inicial, um direcionamento, uma sugestão para se
pensar e treinar uma retomada da língua. A língua só poderá ganhar vida e
contorno próprios com os puris. Isso ocorrerá na prática e através de um
processo lento e com uma naturalidade impressa por seus falantes. Mas para isso
é necessário um corpo mínimo planejado para a língua.
Segunda:
Alguns não tomariam este uso novo da
língua como verdade? O fato de ser uma proposta particular está claro nos
textos que redigi explicando o método que utilizei para a proposta de reutilização
do Puri. Os próprios puri já fazem esse uso nas redes sociais. O poeta Dauá Puri
tem a sua forma de redigir textos usando termos puris. Os textos são publicados
em nome de cada um, sob a responsabilidade de cada um e não está em lugar
nenhum que aquilo é a verdadeira língua puri.
Para
retomar a língua, assim como na revitalização de qualquer língua, sempre haverá
alguma marca autoral dos lingüistas ou de outros acadêmicos. Sempre haverá
empréstimos, adaptações. Haverá um projeto direcionador. No caso do puri mais
ainda, só evitaríamos isso se encontrássemos uma fonte inédita que nos
fornecesse textos ou a gramática da língua: O famoso “Catecismo Puri de
Francisco Chagas”
Portanto,
fique bem claro que a minha proposta de uso da língua puri é uma hipótese, não
é a “verdade”, é uma contribuição para que seja discutida, ampliada, revista. E
quem quiser utilizar, fique à vontade, mas o faça consciente disso! Muito menos
pretendo tirar o protagonismo dos puris nessa tarefa. Apenas quis contribuir! Aliás,
desenvolvi o trabalho sobre o incentivo do cacique Taypuru Puri. Percebi isso
como uma permissão de um representante da etnia para ajudar a pensar o retorno
da língua!
4. A proposta para análise
Quem desejar analisar a minha proposta,
indico os links abaixo dos meus
textos sobre a língua Puri. Reitero que não
sou linguista, apenas pós-graduando em filologia, mas utilizei a minha
experiência com a aprendizagem e estudo de línguas clássicas, modernas europeias
e indígenas brasileiras desde 2001 para elaborar uma proposta de critérios
acadêmicos. Como um acadêmico da área de ciências humanas, tenho conhecimento
do método científico. E a proposta foi calcada sobre os trabalhos de diversos
autores (Veja referências utilizadas no
final).
1 - Manual da Língua Puri (monografia)[5]
2 - Boasé Tapera (monografia)[6]
4 – Dedução de Palavras na Lista de Frases do “Vocabulário
Puri” de Marcelo Sant’anna Lemos (Vocabulário)[8]
5. Referências
utilizadas
Para quem deseja conferir o embasamento da proposta, confira os seguintes estudos:
BEREZIN, Rifka. O Hebraico
Moderno: Um Estudo Histórico. Revista Língua e Literatura, USP, nº 6, 1977.
CAMPOS, Carlo Sandro de Oliveira.
Morfofonêmica e Morfossintaxe do Maxakali.
Belo Horizonte: UFMG, 2009.
CONCEIÇÃO,
Natália Braz da. Uma reflexão sobre variação lingüística na língua Patxohã
do povo Pataxó. Belo Horizonte: UFMG, 2016.
COSTA, Francisco Vanderlei Ferreira da. Revitalização e ensino de língua indígena: interação entre
sociedade e gramática. Tese de doutorado. Araraquara: UNESP, 2013.
LEMOS, Marcelo Sant’ana.Vocabulário da Língua Puri.
Rio de Janeiro: Edição do Autor, 2009.
LOUKOTKA, Čestmír. La familia linguística coroado. In: Journal de la Société des
Américanistes. Tome 29 n°1, 1937.
NETO, Ambrósio
Pereira da Silva. Revisão da Classificação da família lingüística puri. Dissertação
de Mestrado. Brasília: UNB, 2007.
RAMIREZ, Henri; VEGINI, Valdir e
FRANÇA, Maria Cristina Victorino. Koropó, puri, kamakã e outras línguas
do Leste brasileiro: revisão e proposta de nova classificação. Liames 15(2): 233-277 -
Campinas, Jul./Dez. – 2015.
RIBEIRO, Eduardo Rivail. O
Catecismo Puri do Pe. Francisco das Chagas Lima. Cadernos de
Etnolingüística. Volume 1, número 1, jan/2009.
[1]
Bacharel e licenciado em filosofia, especializando em Língua Latina e Filologia
Românica e mestrando em Ciências das Religiões.
[2]
https://pt.scribd.com/doc/314813331/Pequeno-Manual-e-Dicionario-da-Lingua-Puri
[3]
http://linguasbrasilicas.blogspot.com.br/
[4]
Link do grupo: https://www.facebook.com/groups/227600234292516/
[5]
https://pt.scribd.com/doc/314813331/Pequeno-Manual-e-Dicionario-da-Lingua-Puri
[6]
https://pt.scribd.com/document/334795089/Boase-Tapera
[7]
http://linguasbrasilicas.blogspot.com.br/2016/07/artigo-puri-e-reconstrucao-linguistica.html
[8]
http://linguasbrasilicas.blogspot.com.br/2016/12/reconstrucao-da-lingua-puri.html