quinta-feira, 3 de maio de 2018

Botocudos e puris


OS INDÍGENAS DA REGIÃO DO RIO DOCE: IDENTIFIDADE E CULTURA

THE INDIGENOUS PEOPLE OF THE REGION OF RIO DOCE: IDENTITY AND CULTURE

José Aristides da Silva Gamito[1]

Puris no Vale de  São Manoel em 1911.

Introdução

Este breve artigo tem como principal referência o texto de Álvaro Silveira “Memórias Chorográphicas” publicada em 1921. O presente artigo surge como uma provocação às escolas de educação básica de Minas Gerais. O Dia do Índio, às vezes, é comemorado com reforço de estereótipos, com superficialidades, como se índios fossem apenas um “bicho exótico”. Ao levantarmos um pouco da identidade e dos costumes de dois povos indígenas da região do rio Doce, estamos abrindo caminhos para que os educadores conheçam mais estes povos e apliquem isso em sua prática pedagógica.
Neste texto, apresentamos algumas informações sobre a identidade e a cultura dos índios botocudos e puris e o buscamos a localização deles. Há que se observar que viviam outros puris em Minas Gerais além da região identificada por Álvaro Silveira.

1.    Os botocudos

Segundo Álvaro Silveira, no início do século XX a margem direita do rio Doce era habitada pelos índios botocudos. [2] Os indígenas chamados de botocudos eram formados por duas etnias falantes de língua macro-gê: Nakrehé e Gutkrak. Esses dois grupos se reuniram e formação os chamados borun/krenak. Eles são os últimos botocudos do leste de Minas Gerais.[3]
Na mata virgem, eles ainda preservavam seus costumes como andar nus e construir os kijeme, seus ranchos cobertos de folhas de palmeiras. Os mortos eram cremados sem nenhuma cerimônia fúnebre.[4]
As mulheres casadas utilizam o botoque no lábio inferior como sinal de compromisso. As casadas que deixassem se usá-los eram discriminadas. Tanto homens quanto mulheres utilizavam um brinco de madeira como adereço.
O casamento entre os botocudos não tinha cerimônia especial. O pretendente que já pudesse caçar e sustentar a mulher ia até o pai da moça e pedi o consentimento. De modo geral, os casamentos eram monogâmicos. Existia também a poligamia, mas a responsabilidade imposta ao marido era grande.
A dieta dos botocudos era à base de carne e de frutas. Comiam quase toda espécie de animal, inclusive cobras. Eles preparavam a carne assada. Tradicionalmente, caçavam com arco e flecha. A fruta mais apreciada por eles, segundo Álvaro Silveira, é a sapucaia (“aju”). O milho (“uati”) era alimento apreciado.[5]
Os números para os botocudos se limitavam às duas mãos. Isso significava que contavam até dez, além disso, era multidão. Os botocudos viviam em guerras contra os povos da margem esquerda do Rio Doce.[6]

2.    Os puris

            Ao sul do rio Doce habitavam os índios puris. Segundo Álvaro Silveira, eles habitavam as margens do rio São Manoel próximo da divisa entre Minas Gerais e Espírito Santo. Naquela região havia no início do século XX uma aldeia com 40 indivíduos. Estavam lá desde o ano 1873.[7]
            A região onde viviam estes puris é o município de Mutum e região, conforme aponta Álvaro Silveiro, porque ele afirma que eles habitavam a parte litigiosa entre Minas Geras e Espírito Santo. 547-548.

Referências

SILVEIRA, Álvaro A. da. Memórias Chorográphicas. Volume I. Belo Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, 1921, p. 521-522.

PORTES, Edileila Maria Leite. Arte, Arte indígena, Arte Borum/Krenak: os imbricados caminhos para a compreensão da arte. Ars, ano 13, n. 25, 2001, p. 89-103.



[1] Bacharel e licenciado em Filosofia, bacharel livre em Teologia, especialista em Docência do Ensino Básico, do Ensino Superior em Língua Latina e Filologia Românica e mestre em Ciências das Religiões.
[2] SILVEIRA, Álvaro A. da. Memórias Chorográphicas. Volume I. Belo Horizonte: Imprensa Official do Estado de Minas Gerais, 1921, p. 521-522.
[3] PORTES, Edileila Maria Leite. Arte, Arte indígena, Arte Borum/Krenak: os imbricados caminhos para a compreensão da arte. Ars, ano 13, n. 25, 2001, p. 89-103.
[4] SILVEIRA, 1921, p. 521-522.
[5] SILVEIRA, 1921, p. 522-526.
[6] SILVEIRA, 1921, p. 546.
[7] SILVEIRA, 1921, p. 547.